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Ernesto Paglia: jornalista dirigiu o Senna e para o Ayrton Senna

Minha ideia era mostrar o carro. Mas o que saiu no Fantástico emocionou a mim, o repórter e, com certeza, a quem assistiu

Por Charles Marzanasco
1 jun 2022, 07h00
Senna Day
McLaren Senna: a principal atração na pista (Divulgação/Quatro Rodas)

Há exatamente um ano, em abril de 2021, contei aqui nesta coluna que o tricampeão Ayrton Senna foi contra a decisão de a McLaren fabricar carros de rua. O motivo era porque o piloto achava que a McLaren (que queria fazer esportivos, assim como a rival Ferrari) perderia o foco nas corridas. E, de fato, isso aconteceu.

O primeiro carro da McLaren Cars, o F1, lançado em 1993, fez sucesso, mas a equipe de F1 teve os piores anos nas temporadas de 1992, quando o carro de rua estava em desenvolvimento, em 1993.

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Se Ron Dennis, o chefão da McLaren, tivesse ouvido o Senna, porém, agora eu não estaria fazendo esta coluna justamente para contar outra história.

Esta aconteceu em 2019, quando o Instituto Ayrton Senna organizou um evento, o Senna Day, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, para celebrar no dia 1o de maio, os 25 anos da morte do piloto.

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Senna
(Divulgação/Quatro Rodas)

Eu, divulgando a marca Senna e ciente de que o recém-lançado McLaren Senna seria uma das principais atrações na pista naquele dia, criei uma pauta especial do superesportivo para o programa Fantástico, da TV Globo – no qual o carro acabou aparecendo por cerca de cinco minutos.

A ideia surgiu quando me lembrei que, na véspera do GP do Brasil disputado no dia 27 de março de 1994, mais precisamente na quinta-feira que antecedeu a corrida, o Ayrton Senna tinha dado umas voltas na pista de Interlagos, em companhia do repórter de esportes da Globo naquela época, que era o Ernesto Paglia.

Detalhe: o Senna foi no banco do passageiro e quem dirigiu o carro, um Ford Verona utilizado como Pace Car daquela prova, foi o jornalista. Aquela reportagem, que também foi ao ar no mesmo programa Fantástico, no domingo à noite, ficou engraçada demais.

Começa pelo fato de que o Ernesto Paglia não tinha formação de piloto, como muitos jornalistas especializados têm. E, quando levou o Ayrton, em 1994, a pista ainda não estava liberada para treinos, por isso, como se pode ver pela matéria, há veículos de manutenção rodando no sentido contrário ao do carro do repórter.

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Além disso, logo nos primeiros metros, o Ayrton percebeu que o jornalista era meio que braço duro para aquela missão e, ao invés de ficar preocupado, resolveu brincar com a situação.

Senna Pace Car
Senna trocou de lugar com o repórter a bordo do Pace Car (Reprodução/Quatro Rodas)

A volta começou com o Ayrton falando que, com aquela largada, o Paglia seria o último na pista em uma corrida. E, logo depois, pediu para o Paglia tomar cuidado quando encontraram uma VW Kombi parada na pista.

O piloto até registrou o “tan tan tan” do seu hino de vitória quando o repórter chegou ao final da reta dos boxes, se aproximando do S. “S de quem?”, perguntou antes de cantarolar o refrão.

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De volta a 2019, com o apoio do saudoso amigo jornalista Henrique Neves, que faleceu de Covid-19 no dia 4 de abril de 2021, que tinha o contato da diretora do Fantástico, Roberta Belluomini, consegui convencê-la de que o atual repórter do programa poderia pilotar novamente, em Interlagos, depois de exatos 25 anos, o carro que levava o nome do tricampeão mundial para divulgar exatamente alguns dias antes do Senna Day.

E assim se fez, sem esquecer de mencionar a colaboração do diretor da marca Senna, Alejandro Pinedo, que conseguiu incluir o protótipo número 000 do McLaren Senna no evento.

O carro era lindo e havia ficado ainda mais bonito com a pintura nas cores laranja e branca, e o grafismo idêntico aos McLaren de corrida, que o Brasil inteiro se acostumou a ver nos finais de semana, com o Ayrton ao volante.

Senna
Paglia ao volante do McLaren: momento emocionante da carreira (Reprodução/Quatro Rodas)

No dia combinado, lá estávamos no autódromo para gravar a matéria. Minha ideia era conseguir o maior espaço possível para o carro no programa.

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Tinha certeza de que o Ernesto Paglia iria gostar de ser o primeiro jornalista brasileiro a pilotar o McLaren Senna na pista paulistana, mas confesso que não imaginava que ele fosse se emocionar tanto.

Quando nos reencontramos, depois de exatos 25 anos, ele me disse, quase chorando, que a matéria idealizada agora por mim seria um dos momentos mais empolgantes de sua carreira, mesmo porque ele jamais tinha esquecido de que havia sido a última pessoa a dirigir um carro de rua na pista tendo o tricampeão como acompanhante.

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Com motor de 800 cavalos, – mais potente inclusive do que o próprio F1 do piloto –, câmbio de sete marchas e de dupla embreagem com tração traseira e uma incrível aerodinâmica, o McLaren Senna – que teve apenas 500 unidades produzidas, ao custo de US$ 1 milhão, na Europa.

Cerca de R$ 8 milhões no Brasil – realmente impressiona demais numa pista, mesmo rodando meio que devagar como foi conduzido pelo repórter.

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Charles Marzanasco
Charles Marzanasco é jornalista e trabalhou nove anos como repórter na QUATRO RODAS (Acervo Pessoal/Divulgação)

Uma curiosidade que o público não viu é que, mesmo sendo bem mais lento que um piloto profissional, o Paglia ainda conseguiu escapar numa das curvas do circuito, nas duas ocasiões: com o Verona, em 1994, e com o McLaren, em 2019.

Se quiser ver a matéria completa exibida no Fantástico, clique aqui.

Jornalista, Charles Marzanasco trabalhou nove anos como repórter na QUATRO RODAS, dez anos como assessor do piloto Ayrton Senna e 25 anos na Audi.

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