Crise da correia banhada a óleo fez Stellantis trocar por corrente na Europa
Motores 1.0 e 1.2 PureTech enfrentam crise de durabilidade e Stellantis está até ressarcindo manutenções já feitas nos carros

A Chevrolet precisou tomar algumas atitudes para evitar novos problemas com a correia banhada a óleo dos seus motores 1.0 (aspirado e turbo) e 1.2 (turbo): aumentou a garantia da correia, permite a revalidação da garantia do componente e trocou, nos últimos meses, a correia original por uma mais reforçada nos carros mais novos.
Na Europa, quem enfrenta uma crise também por causa da famigerada correia banhada a óleo é a Stellantis.
Na verdade, os principais casos envolvem principalmente carros Peugeot e Citroën, mas também DS, Opel e Vauxhall, e estão relacionados a versões antigas dos motores três cilindros 1.0 e 1.2 PureTech – das quais os Fiat e Jeep se livraram.
Apenas um carro usou o motor 1.2 PureTech no Brasil: o antigo Peugeot 208. mas com plano de manutenção prevendo a troca da correia a cada 80.000 km desde o início e não tem fama de problemas. Na Europa, porém, a Stellantis chegou a prever 240.000 km de durabilidade – a mesma prevista pela Chevrolet.
Por que colocar óleo na correia?
O princípio por trás deste componente está em permitir um nível de eficiência maior com menor geração de ruído, como correias dentadas normais, mas com uma durabilidade tão grande quanto de uma corrente de comando metálica – que é mais ruidosa.

Para a Peugeot e a Citroën, este objetivo foi alcançado em um primeiro momento. Os motores 1.2 PureTech foram, iclusive, eleitos o Motor do Ano em 2015 e 2018.
Uma correia dentada normal pode estourar se não for trocada no prazo certo – em geral, a cada 60.000 km. Correias banhadas a óleo, em teoria, deveriam ter sua durabilidade ampliada pela proteção dos aditivos no óleo lubrificante. A expectativa era por uma vida útil tão grande quanto a de uma corrente.
No Brasil, o problema nos Chevrolet é causado justamente pelo uso de óleo inadequado, diferente do recomendado pela marca e com os aditivos necessários. O óleo errado resseca a correia, que começa a esfarelar e essas partículas entopem desde o circuito de óleo do motor aos componentes arrefecidos pelo lubrificante, como a bomba de vácuo do freio.

Atitudes para contornar os problemas
Quando a Stellantis descobriu o problema, ele já afetava milhares de carros e notificou a Continental, que é a fornecedora do componente. Não foi feita uma relação com o óleo utilizado, mas tentaram uma solução paliativa primeiro: revestir a correia com uma laca, mas o óleo acabava penetrando a lateral das correias.
O problema não foi evitado. Os carros com motores PureTech também acabaram prejudicados pelas partículas de borracha nas bomba de óleo, linhas de lubrificação, filtro de admissão e no filtro de óleo, resultando em lubrificação insuficiente ou em um maior consumo de óleo. Só depois passaram a usar correias mais reforçadas.
As correias banhadas a óleo começaram a ser usadas pela Peugeot e Citroën em 2012, ainda dos tempos da PSA. Se originalmente esses carros deveriam realizar a troca da correia a cada seis anos, agora este serviço tem que ser feito a cada 3 anos ou 60.000 km. Este serviço custa aproximadamente 800 euros (R$ 5.200 no câmbio atual).
Outra atitude da Stellantis foi convocar centenas de milhares de clientes para a troca da correia por uma nova, reforçada, e ainda aumentou a garantia dos carros com motores PureTech para até 10 anos ou 175.000.
Além disso, a empresa criou uma plataforma na qual os proprietários podem iniciar um processo para sejam ressarcidos pelos consertos feitos anteriormente em seus carros em decorrência da correia banhada a óleo – desde que a manutenção se enquadre em exigências como o serviço ter sido feito em oficinas oficiais.
Solução da Stellantis: adeus à correia e aos PureTech
O problema da correia dentada banhada a óleo está relacionada àquela que é considerada a primeira geração dos motores PureTech. Em 2022, a empresa lançou versões do motor 1.2 com corrente de comando – que é o padrão nos híbridos leves da Stellantis.

Carros da Fiat e da Jeep não foram afetados pelo problema, pois quando seus carros começaram a usar os motores três cilindros 1.2 estes já utilizavam corrente de comando – assim como os motores 1.0 e 1.3 GSE de origem FCA/Fiat. A corrente está se tornando padrão na Stellantis, mas há exceções.
Alguns carros ainda podem ter o motor 1.2 com a correia banhada a óleo reforçada em determinadas versões. É o caso, por exemplo, dos Peugeot 308: enquanto sua versão híbrida leve 48V ele gera 136 cv e tem corrente, a versão convencional com 130 cv ainda usa a correia.
A crise de imagem, porém, ficou: o nome “PureTech” foi abolido pela Stellantis de todas as suas marcas.