A pandemia mudou a forma de comprar carro. Mas junto com a conveniência de ver e negociar o automóvel pela internet vieram os golpistas especializados no ambiente digital. Os bandidos usam de criatividade e das plataformas virtuais para vender até mesmo veículos que não existem. Infelizmente, não são poucos os casos e nem o número de vítimas desses marginais.
Mais barato que gasolina! Assine a Quatro Rodas a partir de R$ 6,90
Não há estatísticas recentes específicas sobre fraudes em compra e venda de veículos no Brasil, mas um levantamento do Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP) mostra que entre o início da pandemia da Covid-19, em março de 2020, e março deste ano houve um aumento de 170% nos golpes em vendas pela internet só no estado fluminense.
Obviamente que pesquisar e iniciar as negociações pela internet é uma comodidade da qual não se precisa abrir mão. Mas pesquisar e ver o carro presencialmente são indispensáveis para não ser ludibriado. QUATRO RODAS ouviu agentes de segurança e empresários do setor automotivo e reuniu aqui conselhos para você evitar problemas.
“Não existe uma dica única, mas sim um conjunto de cuidados que diminuem a possibilidade de se cair no golpe”, diz Thiago Chinellato, delegado da Divisão de Crimes Cibernéticos (DCCIBER) da Polícia Civil de São Paulo.
Preço muito baixo? Desconfie!
A primeira regra é ligar o desconfiômetro com preços muito baixos. Os golpistas lançam valores bem abaixo do mercado para atrair clientes, que acabam por dar um sinal ávidos por fechar logo um suposto bom negócio.
É claro que não há um preço padrão para cada seminovo ou usado, pois existem variáveis de acordo com estado de conservação, quilometragem e acessórios.
Porém, pesquise os valores praticados pelo mercado para aquele determinado modelo, versão e ano, e também dê uma conferida nas cotações de tabelas como a Fipe e a da KBB. Se o anúncio tiver preço muito abaixo dessa média, de 30 a 50%, e não houver motivo aparente para a depreciação (batidas, impostos e multas em atraso), desconfie.
“Quando a oferta é exageradamente boa, certamente há um indicativo de que possa existir algo errado. É muito difícil acreditar que bons carros e bem conservados vão estar muito abaixo da tabela Fipe. Preço muito discrepante é o primeiro sinal de alerta”, avisa Thiago Chinellato.
Antes de pagar…
Não caia na conversa do vendedor, pelo telefone ou WhatsApp, de que precisa do dinheiro com urgência ou para assegurar a compra. Ou seja, não aja no impulso, vá ver o veículo antes e pesquise sobre a idoneidade do anunciante, seja pessoa física ou jurídica. Peça o CPF ou CNPJ, além do Renavam e a placa.
“Sempre investigar antes de pagar e verificar a reputação de quem está vendendo. Quem tem a habilidade de pesquisar o carro tem também para pesquisar um pouco a mais e investigar o vendedor, ver se existem até processos contra a pessoa ou a loja”, recomenda o delegado Chinellato.
Não faça pagamento a terceiros
Nada de pagamentos a terceiros. Geralmente, os bandidos usam as contas de laranjas (cúmplices ou não) para solicitar os depósitos e dificultar o rastreamento e a recuperação do dinheiro.
“Sempre fazer o depósito no nome de quem é o proprietário do carro ou para a conta com o CNPJ da loja. Na grande maioria dos golpes na venda de automóveis há algum tipo de depósito na conta de terceiros”, observa o diretor de marketing da Associação dos Revendedores de Veículos no Estado de Minas Gerais (Assovemg), Flávio Maia.
Não pague nada antes de ver o veículo
O vendedor que pede um valor como entrada para garantir o negócio e fazer a “reserva” do carro está jogando com o impulso do comprador. Não faça nenhum depósito antes de ver o veículo, analisar as condições do carro e verificar se a documentação bate com o modelo anunciado e com o anunciante.
Com o Renavam e a placa do carro, é possível conferir algumas dessas informações nos sites dos Detrans estaduais e do Denatran.
“O golpista sente o interesse latente e usa desse momento de emoção da pessoa para aplicar o golpe. O consumidor, com medo de perder o negócio, se esquece de regras básicas de negociação”, afirma o delegado.
Vendedor clonado
Os golpes podem envolver até lojas. Uma modalidade de falcatrua que ganhou força nos últimos tempos é a clonagem de anúncios. O bandido pega as fotos da fachada da loja e do carro, altera o telefone do estabelecimento em algum editor de imagens e põe um outro número de contato.
Flávio Maia conta que criminosos já usaram dessa estratégia envolvendo diversos estabelecimentos. “Criaram uma fachada no computador com telefone diferente, mas é um número em que o golpista atende como se fosse da loja.”
“O carro até existe, mas o lojista nem sabe o que está acontecendo”, diz Thiago Chinellato.
Teatro com terceiros
Os trapaceiros também fazem vítimas entre particulares que põem seus carros à venda. São vários os casos em que uma pessoa se passa por comprador interessado em determinado anúncio e começa a negociar por aplicativo de mensagem.
Se mostra bastante curioso, pede mais fotos e vídeos e diz ao vendedor que ele já pode retirar o anúncio porque vai “fechar negócio” etc. Aí começam as malandragens. O criminoso pega as imagens e cria um anúncio do carro com preço mais atraente e aguarda um comprador.
Sem suspeitar de nada, esse comprador faz contato e o golpista chega a agendar com o vendedor uma visita de um representante seu, sócio ou parente para ver o automóvel. Geralmente, o bandido pede ao vendedor que não comente com o representante sobre valores. E a mesma recomendação é feita ao desavisado comprador. O golpista, então, recebe o dinheiro do comprador e deixa que ele se entenda com o vendedor de verdade.
Atenção ao WhatsApp
Fique atento ao número do celular da pessoa que está na negociação. Já dá para desconfiar se o DDD que aparece é distante da cidade onde o carro está anunciado.
Também suspeite se o DDD e o número do vendedor mudaram de uma hora para outra. E se você anunciou seu carro em sites de compra e venda, fique ligado porque criminosos se passam por funcionários destes portais e solicitam a atualização ou verificação de um código por WhatsApp.
“Um golpe comum é a clonagem do telefone. O golpista entra no anúncio, pega o número do celular e envia três dígitos por mensagem para que o vendedor acesse. Nesse momento é feita a clonagem do WhatsApp”, alerta Flávio Maia.
Leilões falsos
Outro golpe tem afetado os leilões de veículos. Bandidos criam sites falsos de leiloeiros e aqui valem as mesmas dicas. Se o valor do carro for muito baixo, mesmo para um pregão, pode ser engodo.
Além disso, é possível pesquisar sobre o leiloeiro na internet e também na Junta Comercial. Observe, ainda, que o endereço eletrônico do leilão deve terminar obrigatoriamente em “.com.br”. Os sites falsos terminam geralmente em “.com”, “.com/br” ou “.com-br”. “Erros de português e montagens malfeitas de fotos também são indícios de que o leilão pode ser fraudulento”, afirma Chinellato.