Cinco roteiros rodoviários para quem ama dirigir
Está pensando em cair na estrada? Então conheça cinco roteiros que combinam, boas estradas e opções de lazer para você curtir as férias perfeitas
TERESÓPOLIS – ITAIPAVA (RJ)
Quem a usa só como ligação entre Teresópolis e Itaipava, distrito de Petrópolis, não tem dúvida: a BR-495 (Estr. Philúvio Cerqueira Rodrigues) não passa de uma estradinha pouco sinalizada em seus 36 km. Mas para quem dirige sem pressa e faz do caminho o destino é uma rodovia como poucas. Por suas pistas estreitas e curvas fechadas em declive e aclive desvendam-se belíssimas paisagens da serra dos Órgãos e respira-se ar puro e história – a região era o destino de férias da monarquia brasileira.
Antiga Estrada das Hortênsias (flores que hoje em dia estão apenas aqui e ali), a Teresópolis-Itaipava não tem acostamento. Mas, como o movimento é geralmente pequeno, dá para andar bem devagar, para apreciar as atrações ao redor. Em trechos de maior visibilidade, vale até uma parada rápida para fotos.
Logo nos primeiros quilômetros, na subida, começa o desfile das montanhas no horizonte, cada uma com formas próprias: Camelo, Tartaruga, Triunfo, Avalanche, Tapera, Cadetes… Uma verdadeira aula de geografia. No verão, época das chuvas, o barulho das quedas-d’água mata adentro compõe a trilha sonora – da estrada, com atenção, é possível espreitar algumas delas. Em dias de cerração, todo cuidado é pouco na parte mais alta da rodovia. A 1 400 metros de altitude, você chega a ficar dentro das nuvens.
O início da descida é marcado pela pedra da Divisa. Um pouquinho mais à frente, a Curva da Ferradura, uma das mais agudas do trajeto, é para ser feita com esmero e olhos bem abertos: l�� na frente, a vista alcança a imponente pedra do Cantagalo. No quilômetro 15, fica a entrada para o Arquipélago, um conjunto de formações rochosas usadas para a prática de escalada. Há um barranco próximo que pode ser usado como estacionamento. Mais 5 km e chega-se à ponte da cachoeira da Macumba, uma das mais belas do pedaço e a mais acessível pela via.
E assim os cenários serranos se sucedem até Itaipava. De preferência, calcule sua chegada para a hora do almoço, pois o charmoso distrito é também um cultuado centro gastronômico. Se quiser variedade, passe no Mercado do Produtor, no centro, e faça a degustação das comidinhas e doces artesanais – praticamente tudo à venda é produzido na região e preparado quase como nos tempos de dom Pedro II.
Comprimento: 36 km
Melhor horário: Qualquer um menos à noite, quando a rodovia fica deserta e sem qualquer tipo de assistência aos motoristas.
Cuidado: Deslizamentos de pedras e barrancos são comuns nos dias de chuva forte. Se o tempo estiver ruim, informe-se sobre as condições da estrada antes de sair.
Pit-stop: Em Petrópolis, conheça o antigo palácio de verão da família real, hoje transformado no Museu Imperial.
Sabor local: Lambuze-se com as geléias e chutneys do Sítio Humaytá.
RIO-SANTOS (SP)
Se além de brasileiro Deus também fosse motorista, no sétimo dia Ele dirigiria pela Rio-Santos. A estrada é pontuada em seus 457 km por mais de 300 praias das costas paulista e fluminense – das extensas às pequeninas, das badaladas às escondidas. Em São Paulo, o pedaço entre a Barra do Una e Ubatuba agracia os olhos de quem por ele se aventura. São 190 km entre boa parte do que restou da mata Atlântica e a exuberância das baías cortejadas pelo oceano. Caminho obrigatório para quem busca gente bonita e agito no litoral, esse trecho da rodovia ganha um colorido especial quando as ondas dão as caras e os surfistas iniciam por ela um vaivém frenético.
A turma do surfe, aliás, dividia o local com os hippies desde o fim dos anos 60, antes de o asfalto democratizar o acesso às belezas da região. De lá para cá, praias como Maresias e Camburi, em São Sebastião, e Itamambuca, em Ubatuba, foram do cult ao pop e atraem cada vez mais turistas em busca do agito de suas areias e casas noturnas. A constante redução de marchas, para embalar nas subidas ou contornar as curvas fechadas, fazem com que dirigir pela Rio-Santos seja ainda mais prazeroso que “apenas” admirar os deslumbrantes cenários. Obras na rodovia ampliaram os trechos com três faixas, facilitando as ultrapassagens. Com chuvas fortes, o asfalto em alguns pontos pode exigir cuidado extra do motorista.
No sentido Rio, é a partir da Barra do Una que a viagem começa a justificar sua reputação. As paisagens paradisíacas à beira-mar vão se sucedendo e escolher as mais bonitas vira questão de gosto, mas a vista cinematográfica das ilhas, do topo do morro entre as praias de Juquehy e Preta, estará na maioria das listas. Na sequência, o trio Camburi, Boiçucanga e Maresias concentra o maior número de pessoas e opções gastronômicas e de hospedagem. Para encontrar sossego, avance um pouco e escolha entre as aconchegantes Paúba, Santiago, Toque-Toque Pequeno e Grande.
De São Sebastião a Ubatuba, as atenções voltam-se para o barulho das cachoeiras e o verde dos morros. Aqui, já perto da divisa com o Rio, é preciso sair da via principal (e às vezes até do carro, seguindo a pé pelas trilhas) para curtir o melhor do mar, nas isoladas praias do Cedro, Félix e Brava da Almada, todas recantos dignos para o justo descanso do Criador – antes de seguir admirando-se até Angra dos Reis.
Comprimento: 190 km (trecho entre Barra do Una, em São Sebastião, e a divisa com o Rio de Janeiro, em Ubatuba).
Melhor horário: No fim de tarde, quando os raios do sol perdem a força e o céu ganha em cores.
Cuidado: Com muitas curvas acentuadas, é preciso ter paciência e esperar os pontos certos para ultrapassagens nas diversas serrinhas de mão dupla que ligam as praias do litoral norte paulista.
Pit-stop: De São Sebastião, pegue a balsa para Ilhabela e curta as belas e reservadas praias acessíveis só por barco ou jipe.
Sabor local: Na areia ou nos centrinhos das praias, refresque-se com um dos mais de 20 sabores dos picolés de frutas do Rochinha.
>> Roteiro de viagem: 3 714 quilômetros pelo mundo perdido do Atacama
SERRA DO RIO DO RASTRO (SC)
A serra do Rio do Rastro é sempre lembrada como opção singular para espreitar um cenário alpino ao volante. Contemplar os motoristas com neve não é para qualquer estrada brasileira, mas a merecida honraria muitas vezes acoberta a variedade de sensações e visuais propiciados pelo trecho entre Lauro Müller e Bom Jardim da Serra, o mais sinuoso da SC-438, que liga o litoral ao planalto. Nos dias em que o sol brilha e clareia o horizonte, a vista alcança o mar, mesmo estando a 100 km da costa.
Serra com “S” maiúsculo, 12 dos seus 34 km compõem uma ribanceira daquelas clássicas. Pelo pedaço mais íngreme, avançam-se 670 metros em apenas 8 km de extensão. São 284 curvas. Para fazer as mais fechadas, de até 180 graus, é preciso dar mais de uma volta no volante. Desconfie do ditado e da ajuda de “todo santo” na descida e nunca deixe o carro embalar muito. Subindo, não hesite em abusar da primeira marcha e fique de olho em quem vem pela outra mão – caminhões e ônibus às vezes usam as duas pistas.
O cuidado deve ser triplicado em dia de formação de gelo na rodovia, mais comum no inverno, mas que pode ocorrer em qualquer estação. Há 7 km pavimentados com concreto, em trechos altos que requerem maior aderência. Além dos oratórios encravados em pedra, destacam-se atrações naturais como as escarpas, a vista da serra Geral e cascatas como a da Barrinha, à margem da estrada, com piscina natural e acesso fácil. No passado, o topo da serra era o ponto de descanso de tropeiros que levavam até cinco dias para descer ao litoral. Portanto, ao chegar ao alto dos 1 467 metros de altitude, mantenha a tradição: estacione no mirante e saia do carro para tirar fotos e encher o pulmão de ar puro. Dali é possível admirar boas porções do vale e o cânion do Funil. Se a neblina impedir a vista do mar, não se aborreça. A serra do Rio do Rastro tem (bons) humores para todos os climas.
Comprimento: 34 km (trecho entre os municípios de Lauro Müller e Bom Jardim da Serra).
Melhor horário: De manhã, para driblar a cerração e o tráfego; à noite, a iluminação é um espetáculo, mas a atenção tem que ser dobrada.
Cuidado: Atenção com o gelo na pista, principalmente no inverno. Busque as partes mais limpas e evite frear bruscamente. Se nevar, dê meia-volta.
Pit-stop: Pare no mirante do topo para avistar o litoral, nos dias de tempo bom, ou contemplar o show de luzes, à noite.
Sabor local: Esbalde-se com as comidinhas típicas feitas com pinhão.
ESTRADA PARQUE DO PANTANAL (MS)
Ninguém pode se sentir o “dono da estrada” na via cênica do sul do Pantanal mato-grossense. Esse título cabe, sim, aos animais que por ela perambulam. Jacarés, capivaras, tamanduás, araras, tucanos e tuiuiús são habitués da área desde muito antes de o caminho ser aberto no século 19 pelo marechal Cândido Rondon. Sucuris, porcos-do-mato e cervos também dão as caras aqui e ali, principalmente perto de baías e canais. Um autêntico safári.
Acredite: ver bichos na estrada do Parque é fácil. Desafio é cruzar as 87 pontes de madeira, algumas em estado precário, ao longo dos 122 km de terra irregular e bancos de areia. Um 4×4 ajuda muito, mas para não ficar atolado, escolha a época de seca, de maio a setembro. E é bom vacinar-se contra a febre amarela ao menos dez dias antes. Saindo do Buraco das Piranhas, os 50 km iniciais são planos e arenosos. É também nesse pedaço que estão os hotéis. A atividade dos animais aqui é intensa, com boas chances para observar ou fotografar a partir das pontes.
Quando chegar à Curva do Leque, pare no armazém para tomar fôlego e um refresco. E 18 km depois, atravesse o rio Paraguai por balsa em Porto da Manga, movimentada pela venda de iscas aos pescadores. De volta à terra, aos poucos a vegetação ganha porte e a flora passa a rivalizar em atrações com a fauna. Já no fim, na serra do Urucum, estão os pontos mais altos, ótimos para uma bela visão geral da planície pantaneira. Apenas mais 9 km e chega-se a Corumbá. De banho tomado e alma lavada, visite as exposições interativas da Estação Natureza Pantanal e complete com a teoria tudo o que você conferiu na prática.
Comprimento: 122 km (entre o Buraco das Piranhas e Corumbá)
Melhor horário: De madrugada, antes de o sol surgir, é uma boa hora para ver os bichos que saem em busca de comida.
Cuidado: Atenção para não atolar na lama ou nos bancos de areia. Mesmo com um 4×4, é bom ter pá e tábuas no porta-malas.
Pit-stop: Vale a pena “ouvir” o amanhecer do dia, anunciado em alvoroço pelos cantos das aves, às margens do rio Paraguai.
Sabor local: Na Curva do Leque, pare no armazém do Quê-Qué e peça um guaraná-mate (erva-mate gaseificada, o refrigerante local).
RODOVIA AL-101 (AL)
Menos famosa que as baianas Linha Verde e Ilhéus-Itacaré, a AL-101 é a rival nordestina da Rio-Santos no quesito estrada litorânea. O clima tropical impera pelo trajeto, repleto de fazendas de coco, canaviais e vilarejos de pescadores. Sem falar no sol. Mesmo com tantas atrações, nos trechos em que o asfalto se alinha com o mar é quase impossível tirar os olhos do personagem principal: o Atlântico e suas variedades raras de tons entre o azul e o verde.
O melhor começa em Barra do Camaragibe, a 60 km de Maceió. Pelas margens, uma verdadeira aula dos frutos locais: mangabas, pitombas, seriguelas, sapotis… Melhor que vê-los é prová-los, e chance não faltará – ainda que você prefira recorrer ao comércio de beira de estrada, movimentado pelos moradores.
A via segue asfaltada e em boas condições até Porto de Pedras, repleta de residências centenárias e que é o ponto de partida da balsa para cruzar o rio Manguaba e seguir caminho. Para almoçar ou pernoitar, vale a pena entrar na charmosa São Miguel dos Milagres. Depois saia da rota principal: os próximos 10 km são de terra batida e paralelepípedo e têm a companhia constante do mar. Se a maré estiver baixa, aproveite para descer do carro e caminhar sobre águas rasas por quase meio quilômetro oceano adentro.
De volta ao asfalto, é hora de se despedir das praias e dirigir até Maragogi, destino alagoano mais procurado depois da capital. Siga direto para um restaurante ou hotel no centro onde se operam passeios de barco para as piscinas naturais, as galés. Formadas por arrecifes de corais, a 6 km da costa, essas águas cristalinas encantam pelos peixes que nadam ao seu redor.
Comprimento: 43 km (trecho entre Barra do Camaragibe e Maragogi).
Melhor horário: Pela manhã, bem cedo, ou no finzinho da tarde, quando o sol não está a pino.
Cuidado: Na época das chuvas (meados de abril a julho), a pista pode apresentar buracos grandes o bastante para causar avarias.
Pit-stop: Antes de pegar a balsa em Porto de Pedras, desvie o caminho para dar um mergulho na deserta praia do Patacho, cercada apenas de coqueiros e recifes.
Sabor local: Para tapear a fome, abasteça-se com as bolachas e sequilhos produzidos artesanalmente na cidade.