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Carros automáticos têm cada vez mais procura e fazem sucesso entre usados

Brasileiros perderam o medo dos carros automáticos automáticos e já não querem mais saber do câmbio manual

Por FERNANDO MIRAGAYA
28 jul 2022, 00h30
Ford Mustang tem câmbio automáticoa de dez marchas
Ford Mustang tem câmbio automáticoa de dez marchas (Christian Castanho/Quatro Rodas)
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Atualmente, mais de seis em cada dez carros vendidos no país são equipados com transmissão automática. E essa predileção já se reflete no mercado de seminovos.

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Com base no acumulado de emplacamentos de janeiro a maio de 2022, 63,5% dos automóveis de passeio (hatches, sedãs, SUVs) e das picapes negociadas no mercado são dotados de caixa automática. O domínio desse tipo de câmbio começou nos andares de cima, mas hoje praticamente todos os compactos oferecem a transmissão AT.

Além disso, o câmbio automático passou a ser mandatório em determinados segmentos. Na categoria de sedãs médios, praticamente não existem mais versões manuais – a despeito de o segmento estar esvaziado. Já entre os SUVs (compactos, médios, médios-grandes e de luxo), 94,8% das vendas foram de modelos ATs nos cinco primeiros meses do ano.

Fator geracional

Para os profissionais do mercado, essa ascensão dos automáticos vem de vários fatores. Um deles é o conforto proporcionado em meio a congestionamentos cada vez maiores nas cidades. Mas a desmistificação da manutenção, a melhora nos câmbios e até mesmo um aspecto comportamental interferem.

“Tem um fator geracional que tem a ver com os jovens que estão começando a dirigir”, afirma Matías Fernandez Barrio, CEO e fundador da Karvi, plataforma que atua na negociação de carros usados entre as lojas e o cliente final. “É uma geração muito mais pragmática, que prioriza a simplicidade e, obviamente, aprender a dirigir no carro automático.”

O que dizem as pesquisas

A Karvi fez um levantamento para a QUATRO RODAS a respeito do crescimento na participação de ATs nos carros intermediados pela plataforma. Em fevereiro de 2022, 58% dos veículos certificados e cadastrados no site eram automáticos.

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Nas primeiras semanas de junho, dos mais de 10.000 veículos certificados pela Karvi em todo o país, a participação de automáticos já atingia 63,3%. Nas compras, o mesmo movimento. Em fevereiro de 2022, 3,2% do total de carros vendidos na Karvi eram automáticos. Em maio, esse índice foi de 27%. Nas buscas, a predileção pelos modelos sem pedal de embreagem também cresce. De abril para maio, houve aumento de 44% nas pesquisas.

O mesmo ocorre em outras plataformas e lojas. A Creditas Auto – empresa que realiza a compra e venda de seminovos de uma ponta a outra da cadeia – também fez um levantamento a nosso pedido. Segundo a companhia, no primeiro trimestre de 2022, o interesse dos clientes por carros automáticos foi 2,8 vezes maior que pelos manuais.

Na Recreio, rede de distribuidores Volkswagen com cinco lojas no Rio de Janeiro (RJ), a demanda por veículos com transmissão automática também é um fato. Clientes de SUVs e sedãs, por exemplo, preferem modelos com esse equipamento.

Não pega poeira no pátio 

“A tendência de carros automáticos reflete nos modelos seminovos, que acabam tendo um giro muito mais rápido de venda. Com a alta de preços do zero-km, uma grande fatia de consumidores está migrando para os seminovos mais completos e automáticos”, observa Douglas Navarro, gerente geral de vendas da Recreio.

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Na rede Recreio, um utilitário esportivo com câmbio manual, por exemplo, pode levar mais que o dobro de tempo de estoque para venda.

Na Carbig.com, rede de agências de seminovos que atua no estado de Minas Gerais, metade das mais de 700 unidades comercializadas por todas as lojas no ano foi de carros automáticos. E a liquidez dos ATs, além da valorização em relação aos similares manuais, é evidente.

“Na categoria de sedãs médios, por exemplo, tem até a questão da escassez de versões manuais. É um público que foca muito no carro automático. Mesmo no caso de um Toyota Corolla, se for com câmbio manual não tem a mesma valorização”, explica Felipe Pessoa, diretor do site Carbig.com.

Sem estigmas 

Lembra que seu tio do pavê falava que câmbio automático dá problema? Pois é, os câmbios evoluíram e a manutenção de modelos com transmissão automática muitas vezes custa o mesmo que a de versões com caixa manual. Detalhe: o câmbio automático dispensa o sistema acionado pelo motorista, que periodicamente requer a troca de componentes (disco, platô e rolamentos) que sofrem desgaste com o uso.

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Além disso, tais rótulos eram também reflexos de um mercado com poucas opções de veículos com esse tipo de equipamento.

“Eram teorias que não tinham nenhum tipo de sustentação técnica. Nos principais mercados do mundo a maior participação sempre foi de automáticos e os mercados na América Latina não tinham muita disponibilidade de modelos com esse câmbio. Então, era comum que os vendedores de carro falassem mal do automático. Até porque eles não tinham para vender”, acredita Fernandez, da Karvi.

Hoje, com a maioria dos automáticos sendo vendida no mercado de zero-km, não há estigma que freie o crescimento desse tipo de transmissão. As projeções apontam para um mercado de mais de 70% de automóveis automáticos zero-km em 2023. A própria Karvi projeta que, daqui a um ano, a participação de ATs em seu estoque fique entre 75 e 80%.

Provavelmente, até o seu tio vai falar bem do carro automático.

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Não é só descanso

Câmbio automático requer outros hábitos ao volante. Veja o que muda na vida do motorista

Ter um carro automático não é só dar um descanso para a perna esquerda – tem gente, inclusive, que continua usando-a para frear. Essa transmissão mais confortável também implica mudanças no comportamento do carro e requer cuidados pequenos, mas importantes.

Coloco em “N” quando paro em um semáforo?

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Que fazer com o Neutro (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Para modelos mais modernos com câmbio automático, a prática é dispensável. Isso porque a ECU da caixa “entende” que o veículo está inerte e envia um comando para a central eletrônica do motor limitando o torque. Ou seja: quando o veículo está parado e o motorista com o pé no freio, a transmissão é colocada em Neutro automaticamente. Já em paradas por mais tempo, vale colocar a alavanca em “N”.

“Como pode ser difícil para o usuário reconhecer se o processo de engate foi finalizado ou não, ou se existe algum tipo de função eletrônica que protege a transmissão, a nossa sugestão é que nas paradas mais longas o motorista coloque a transmissão em Neutro, mas mantenha o câmbio engatado nas paradas mais curtas”, diz Adilson Papa, gerente de engenharia de aplicação da ZF.

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Já nos câmbios automáticos de carros mais antigos, colocar em “N” pode ser um meio de economizar combustível. Mas é preciso dar “um tempo” depois que o semáforo fica verde e antes de acelerar.

“O procedimento de se colocar em Neutro pode até ajudar a economizar combustível, mas ao retornar para a posição Drive é necessário que o motorista aguarde até que todos os pacotes de freio e embreagem da transmissão estejam plenamente acoplados antes de acelerar. Do contrário, a vida da transmissão pode ser prejudicada”, alerta.

 

É possível economizar…

Odyssey
Levando na ponta dos dedos (Divulgação/Quatro Rodas)

O modo de condução também pode fazer o câmbio automático interferir negativamente no consumo. Evitar acelerações bruscas, manter o pedal pressionado de forma gradual e não abusar do kick-down ajudam o carro a ter um rendimento mais eficiente do motor. Priorizar as opções “Eco” nos modos de condução dos carros ATs também ajuda.

“Mesmo com todas as melhorias, o carro automático com conversor de torque ou CVT pode consumir mais se não for utilizado de maneira correta. Ao acelerar muito rápido, o sistema coloca uma potência e um consumo elevado. Outro exemplo: o modo esportivo faz trocas de rotação mais altas e beneficia o regime de potência máxima do motor, o que também aumenta
o consumo”, pondera Almiro Moraes, da SAE Brasil.

Automático consome mais?

TCross
(Divulgação/Quatro Rodas)

Mais uma vez, nos modelos mais antigos a diferença de consumo é mais gritante. Isso porque muitos componentes dos conjuntos de transmissão tinham baixa eficiência, em especial itens como conversor
de torque e sistema de bombeamento hidráulico.

“Com o advento do aumento de margens para mais marchas, as transmissões automáticas têm conseguido melhoria significativa de eficiência, e conseguem colocar a rotação do motor em faixa econômica para além das estratégias de lock-up do conversor, onde se elimina qualquer perda”, explica Almiro Moraes, da Comissão Técnica de Transmissões da SAE Brasil. Já o CVT é, geralmente, mais eficiente.

A caixa continuamente variável tem a característica de estabelecer relações infinitas, se adaptando ao motor. Tanto que na antiga linha Toyota Yaris ou Honda Fit, as versões CVTs anotavam consumos melhores que as opções manuais, segundo os padrões do Inmetro.

Olho na manutenção

Pat Pauliceia
Cuidados que previnem quebras (Divulgação/Divulgação)

É importante falar na manutenção preventiva, primordial para o câmbio automático e o carro como um todo renderem melhor e não pregarem sustos. O dono do carro deve seguir o plano de revisões estabelecido pela montadora e checar o conjunto da transmissão a cada 10.000 km. Atenção também ao óleo da caixa.

O fluido da transmissão deve ser inspecionado frequentemente – para verificar possíveis vazamentos – e trocado conforme os prazos e especificações estabelecidos pela montadora.

“É muito importante utilizar o fluido especificado. Para cada transmissão existe um fluido correto e não deve ser utilizado uma especificação diferente, o que pode causar danos de aquecimento no sistema ou desgastes excessivos dos componentes”, alerta o engenheiro da SAE.

Para fazer a transmissão durar mais

Cambio
Sabendo usar, não vai faltar (Divulgação/Quatro Rodas)

É possível fazer com que o câmbio automático tenha maior vida útil e proporcione o conforto e a dirigibilidade que se busca. A primeira dica é fazer mudanças suaves na alavanca.

As transmissões ATs modernas até têm dispositivos de segurança que bloqueiam ou protegem o sistema, mas evite mudar as posições de marchas com o veículo em movimento.

Uma regra é, antes de sair com o veículo, primeiro engatar a marcha – “D” ou “R”, conforme a necessidade – e só depois desativar o freio de estacionamento. Depois, na hora de parar, o oposto: ao estacionar o veículo, acione o freio de mão ou botão do freio de estacionamento antes de colocar a alavanca em “P”. Isso vai poupar uma sobrecarga no sistema de transmissão.

Assim como nos câmbios manuais, evite também deixar a mão pousada sobre a alavanca do câmbio. “Isso causa um esforço interno ao sistema de controle da transmissão e provoca desgastes dos patins dos garfos de engate, escape de marchas e também pode ocasionar raspagem durante o escape”, avisa Almiro Moraes, da SAE.

 

As mudanças sequenciais ou as posições “L”, “1”, “2” ou “3” devem ser usadas em descidas de serra como freio motor?

Cambio automático
Marchas: selecione à vontade (Divulgação/Quatro Rodas)

Sim, estas funções ajudam principalmente nas descidas de serra. Elas minimizam a carga sobre o sistema de frenagem, especialmente o consumo das pastilhas de freio. “O usuário deve consultar o manual do veículo para obter mais informações sobre como fazer o melhor uso dessas funções. Em geral, existem particularidades de configuração para cada modelo e fabricante”, sugere Adilson.

Quanto mais marchas um câmbio automático tem, menos trancos e mais eficiente ele será?

10speed-Trans Ford
(Divulgação/Quatro Rodas)

A qualidade de troca de marchas não tem relação direta com a quantidade de marchas, e sim com o sistema hidráulico e o nível do software da transmissão. “Porém, o consumo e a performance estão diretamente relacionados ao número de marchas. O maior número de marchas permite que o motor trabalhe na sua melhor faixa de consumo e eficiência”, reforça Adilson Papa, da ZF.

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