O nome é estranho, mas o serviço é o sonho de quem adora cuidar do carro pessoalmente e deixá-lo em perfeito estado. Começa a se popularizar no Brasil o car detailing (ou detalhamento), que é a combinação da higienização de interior com um espelhamento da lataria e uma pitada de recuperação de materiais, sempre feitos com minúcia, em processos que podem levar até um mês de execução – e ter um custo de quase R$ 4.000.
Luan Cordeiro, um dos pioneiros no auto detailing no Brasil e dono da AutoFlux, de Curitiba (PR), explica que o processo precisa ser feito por etapas para ser eficaz.
A parte crucial é a avaliação. Nela são analisadas todas as superfícies que serão tratadas, o que inclui estofamentos dos bancos, revestimento do painel, carpetes e peças plásticas ou emborrachadas, além da carroceria.
“A avaliação permite selecionar corretamente os materiais e equipamentos que serão usados, preparar as diluições corretas dos produtos químicos e estimar o tempo de trabalho”, diz.
Feita a avaliação, segue-se a lavagem. Mas não da forma como você conhece. “Nessa etapa, fazemos a limpeza das rodas, caixas de roda, parte inferior, carroceria, guarnições de porta, motor e qualquer outro detalhe, seguindo sempre um método próprio e com um produto específico para cada área”, explica Cordeiro.
Até a secagem pode ter um procedimento especial. Na Perfect Detail Garage, em Niterói (RJ), os veículos são secados com jato de ar para garantir acabamento perfeito.
Só depois dessa etapa vem a descontaminação. “Chega um momento na vida do carro em que os tecidos se escurecem e os plásticos perdem brilho. Não por mau uso, mas por conta da poluição e do uso diário. O detalhamento devolve às superfícies sua cor natural”, conta Silvio Rivarolla, diretor do Sindirepa-SP (sindicato das oficinas independentes) e diretor da Evolution, que também realiza o serviço.
A descontaminação remove tudo que a limpeza simples não foi capaz de eliminar.
Depois, o automóvel passa à etapa seguinte: o espelhamento da carroceria e o detalhamento interno. O processo corrige os defeitos da pintura, mas para isso é necessário recorrer a lâmpadas especiais e até a um medidor de espessura da tinta para descobrir os locais da lataria mais críticos sem comprometer os pontos em que o verniz já esteja prejudicado.
Expectativa sob controle
Nem é preciso chegar a essa fase para tocar uma das partes mais relevantes para a satisfação do cliente: o gerenciamento de expectativas.
“Como o car detailing é um serviço de embelezamento do veículo, o cliente tem de saber exatamente o que vai conseguir. Em alguns casos, o carro sai da oficina como se fosse novo. Em outros, melhora uns 80%. E há casos em que o estrago é tão grande que só uma reforma resolve. Avisar o cliente sobre os resultados é fundamental para não haver frustrações”, diz Rivarolla.
Justamente por isso que a fase de avaliação é tão importante. “O técnico (chamado detailer) tem de ser muito bem treinado para conseguir avaliar tudo corretamente.”
Já o interior pode ir além da mera limpeza das superfícies. “Tudo depende da habilidade do profissional: plásticos podem ser repintados, painéis de madeira ou fibra de carbono podem ser polidos, couro com rachaduras pode ser recuperado. Muitas vezes o detailer não conta com estrutura e técnica para tais reparos, mas sempre terá parceiros que o auxiliam nesse processo”, diz Cordeiro.
A última parte é a finalização. “Revisamos todo o trabalho, procurando qualquer detalhe que possa ser tratado ou corrigido. Essa fase é enriquecida com a experiência do profissional, que sempre busca ir além.”
Todas essas etapas exigem tempo: segundo o dono da AutoFlux, quase uma semana. Às vezes, duas. Um projeto de detalhamento completo pode durar até 10 dias ou mais, dependendo do caso. “Já chegamos a trabalhar 15 dias em um veículo. Em média, um detalhamento bem executado leva seis dias inteiros. Mas tudo dependerá do combinado com o cliente e das exigências do trabalho. Para se ter uma ideia, apenas o tratamento da pintura pode requerer quatro dias.”
Fred Bizzotto, da Perfect Detail, vai mais longe: “Se o interessado achar que 10 ou 15 dias é muito, então esse não é o perfil do nosso cliente. No mundo do auto detailing, a pressa é inimiga do detalhe.”
De Fusca a Porsche
A certeza, no entanto, é que o trabalho é bem caro: varia de R$ 1.900 a R$ 3.900 dependendo da condição do veículo, explica Cordeiro. Mas é barato perto do que se cobra no exterior. No Reino Unido, a Elite Car Detailer cobra 7.000 libras esterlinas (R$ 41.500) pelo serviço e demora mais de um mês. E tem fila de espera.
Ao contrário do que pode parecer, o perfil do cliente nem sempre é um milionário com um carrão importado.
“Não importa se é um Fusca ou um Porsche, todos têm em comum uma paixão, que muitas vezes se perde com o tempo – entenda-se, maus tratos”, comenta Bizzotto.
“Tem dono de Ferrari que não investe em um plano mais completo, por não achar necessário, e dono de carro nacional que investe sem medo”, diz Cordeiro. “Certa vez um cliente queria ‘detalhar’ um carro que foi do pai dele, já falecido. O momento da entrega foi bem bacana. Ele disse, emocionado: ‘Nossa, me sinto criança outra vez. Ficou igual ao dia em que meu pai chegou com o carro novo na garagem de casa’.”