O avião pode ser mais rápido, mas nada oferece a chance de conhecer novos lugares e pessoas como viajar de carro, sem falar da praticidade de estar livre de horários de voo ou espera no aeroporto. Quando o assunto é dirigir lá fora, em especial nos países vizinhos, o futuro viajante tem de se preparar para outro desafio: a burocracia.
Para começar, há exigências que devem ser seguidas para ir aos países do Mercosul (Paraguai, Argentina e Uruguai). A primeira delas é a obtenção da Carta Verde, uma espécie de seguro obrigatório para cobertura de danos a pessoas que estejam fora do carro, como pedestres ou ocupantes de outros veículos.
Um estrangeiro com um carro registrado no Brasil não pode rodar nesses países sem esse documento, sob risco de ter o carro retido numa blitz. Essa carta é algo que pode ser obtido com um corretor de seguros ou em qualquer agência do Banco do Brasil. O custo da carta depende do tempo que se vai passar no exterior. Ela pode ser contratada por prazos de três a 30 dias, ao custo de R$ 48 a R$ 378.
O cuidado seguinte é com a documentação do motorista e do carro. Se o veículo estiver no nome do motorista, basta portar o CRLV (Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo) original. Se o carro for de outra pessoa, é preciso levar uma autorização do proprietário, registrada em cartório e com firma reconhecida – pode ser em português mesmo.
Isso inclui o banco ou a financeira a que o automóvel estiver alienado. Sem isso, pode haver problemas para cruzar a fronteira. Para conseguir a autorização, é preciso consultar a financeira de seu veículo.
O próximo passo é verificar se os documentos dos ocupantes também estão regularizados. Para ir aos países vizinhos do Brasil que pertencem ao Mercosul, não é necessário levar o passaporte. Basta a carteira de identidade, mas tem de ser o documento original.
Carteira de motorista, mesmo com foto, também não serve como identidade, mas é exigida para provar que quem está atrás do volante é realmente habilitado. Já países que não pertençam ao Mercosul – caso do Chile, destino tão comum aos brasileiros motorizados – exigem passaporte.
Triângulos e mortalhas
Estando toda a papelada em ordem, é preciso saber se o carro também está. E não só com relação aos equipamentos exigidos no Brasil, como faróis e lanternas em bom estado, placa legível e presença de estepe, macaco, chave de roda e triângulo.
Na Argentina, por exemplo, exige-se um extintor de incêndio e pelo menos dois triângulos. Essa é a interpretação que se dá à lei que disciplina o trânsito na província de Buenos Aires. Ela menciona apenas a necessidade de “balizas” (os triângulos), o que pressupõe que o carro deve ter mais de um.
Dicas de motoristas profissionais e sites de viagens falam de exigências mais polêmicas, como um kit de primeiros socorros, um cambão rígido de 3 metros (para o reboque de outros veículos), dois estepes, correntes para os pneus (em lugares onde neva) e até duas mortalhas, lençóis brancos para cobrir eventuais vítimas de acidentes.
Apesar de a polícia argentina poder cobrar que esses itens estejam nos carros, não há lei argentina que sustente sua necessidade. Viajantes que costumam ir ao país dizem que tudo não passa de desculpa para pedir um regalito. Infelizmente, há vários relatos de viajantes dizendo que não é raro haver algum policial pedindo algum tipo de propina.
Um cuidado que vale tomar é com vidros com película de escurecimento. Diz a lei argentina que a transparência deve ser suficiente para reconhecer os ocupantes a curta distância. Assim, quem tiver um carro “fechado no filme”, ou seja, com os vidros totalmente escurecidos, corre o risco de ser frequentemente abordado pela polícia argentina e multado.
No Uruguai a legislação é mais parecida com a brasileira e não se ouvem tantos casos de policiais pedindo equipamentos incomuns para “liberar” ninguém.
Carteira internacional
Na maioria dos países, em especial os do Mercosul, só é necessária nossa Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Mas há países, como a Colômbia, que preferem que o motorista porte a Permissão Internacional para Dirigir, ou PID, válida em todos os países signatários da Convenção de Viena.
Essa permissão também é indicada para quem vai viajar para mais longe, como os Estados Unidos e países europeus, ainda que nem todos eles a exijam. A principal função da PID é servir como uma tradução da carteira de habilitação. Tanto que o uso da permissão não elimina a necessidade de apresentar, também, a CNH.
Antigamente emitida por entidades como o Touring Club do Brasil, a PID agora é emitida apenas pelo próprio Detran de cada estado. O custo da PID é de R$ 259,05 no órgão de São Paulo e sua expedição demora três dias úteis. Em caso de dúvidas sobre documentação, é sempre bom pedir informações ao consulado ou embaixada do país de destino.
Dieta do motor
Sempre haverá o receio de como o carro vai reagir em um país estranho, onde o tipo de clima e o combustível são diferentes do Brasil.
“Em lugares muito frios, é preciso fazer uma mistura de etilenoglicol em uma proporção de pelo menos 50% em relação ao total de água que cabe no sistema de arrefecimento. Isso evita congelamento e danos ao motor. Também existe um aditivo à base de etilenoglicol para o esguicho do limpador de parabrisa”, diz Waldemar Christofoletti, colaborador do Comitê de Veículos de Passeio da SAE Brasil, entidade que reúne os engenheiros automotivos.
Quanto ao combustível, vale lembrar que não há distribuição de álcool nos países do Mercosul. A gasolina, por sua vez, é dividida em três tipos: regular, com 87 octanas, super, com 95 octanas, e premium, com 99 octanas (no Brasil, a comum e a aditivada têm 95 octanas, a premium, 98 e a Podium,102).
“Podem ocorrer duas coisas. Se você comprar gasolina regular, pode haver batida de pino, a chamada detonação. Se a gasolina for a premium, pode acontecer de acender uma luz amarela no painel, indicando mistura rica”, diz Christofoletti. Como regra geral, para carros flex, a gasolina indicada é a premium. Veículos com injeção mais antiga se dão melhor com a super.
É o bicho
Está pensando em levar seu animal de estimação? É preciso ter um certificado do Ministério da Saúde comprovando o estado de saúde do bicho, assim como a carteira de vacinação. Quando se entra no Uruguai, por exemplo, é preciso apresentar o animal e sua documentação no departamento de controle zootécnico do ponto de entrada no país.
Na Argentina, bicho nenhum entra sem as devidas autorizações. Há quem diga que, devido às complicações que pode haver nas fronteiras, o melhor é deixar o animal de estimação em casa, com algum conhecido ou parente ou até em hotéis especializados.